terça-feira, 18 de maio de 2010

Sobre viados, bichas e outros animais de segunda classe...

PENSATA



São Paulo - Foi curioso vivenciar e verificar o último dia 17 de maio de 2010. Há em alguns países a marcação de tal data como o Dia Internacional de Combate à Homofobia; no Brasil, apesar de alguma pressão para a oficialização no calendário, o presidente em exercício José Alencar disse que a pauta será adiada sem previsão de apreciação. Talvez ele entenda que não se trata de questão de interesse do Governo, mas sim da sociedade, colocando ambos em esquisitos pólos opostos; ou entenda que se trate de questão específica a um certo grupo minoritário, ou ainda a uma meia dúzia de militantes, o que não geraria eco negativo na sociedade de uma forma geral.


José Alencar está parcialmente certo. Não é de hoje que a mídia nacional trata o tema de forma debochada, desdenhosa e pejorativa. Não, não considero humor o que boa parte dos programas assim definidos fazem com a imagem estereotipada que constroem de pretensas figuras homossexuais: não apenas generalizam a afeminação e afetação a todo um grupo, no caso dos homossexuais masculinos, e a postura brusca e masculinizada, no caso das homossexuais femininas, como os tratam de maneira exagerada. Assim, gays usam saltos altos e batons, independente da situação, e lésbicas coçam a virilha.

Não quero aqui insinuar que gays e lésbicas não possam ser assim ou que, caso sejam, isso esteja errado. Há quem diga que as ‘pintosas’ e as ‘caminhoneiras’ depõem contra a militância dentro do movimento homossexual, mas eu, pessoalmente, considero que muitas dessas pessoas constroem na sua postura diária um enfrentamento interminável pelo simples direito de existir.

Mas quando iniciei este texto me remetendo ao vice-presidente da República foi por ter presenciado expressões de homofobia disfarçadas de brincadeira pelo programa CQC, veiculado nas noites de segunda-feira pela Band, que não provocaram espanto ou manifestação de nenhum grupo militante ou midiático ligado à questão dos homossexuais. Há algumas semanas atrás, por conta do outing de Rick Martin, o CQC dedicou-se a ‘tirar do armário’ à força um de seus integrantes. Fosse apenas isso nem haveria tanto problema, mas a produção, não satisfeita, produziu uma matéria totalmente inútil sobre o assunto perguntando às pessoas na rua que famoso elas achavam que estaria no armário (já que não teriam colhão de afirmar nada eles mesmos, jogando a responsabilidade para o povo editado oportunamente para a matéria) e entrevistando o jogador Richarlyson do São Paulo e o prefeito Kassab, para os quais há rumores sobre sua sexualidade. A matéria tinha a intenção de esclarecer algo ou desmistificar estereótipos? Não, apenas constranger os entrevistados. Isso não é violência? Saliente-se que o mentor do programa, Marcelo Tas, iniciou a matéria afirmando que o Brasil passava por uma ‘rickmartinização’ e isso seria um sinal do fim dos tempos...tsc, tsc, tsc.



Ontem, 17 de maio, mais uma vez a trupe CQCista, aparentemente sem pauta, investiu esforços em produzir mais piadinhas e textos homofóbicos. O trio da bancada mostrou a campanha pela Casa do Heterossexual, bem no dia da Luta contra a Homofobia. Marcelo Tas, ao apresentar um dos vídeos do Top Five (uma entrevista de uma médica feita por Jô Soares na qual a mesma relata ter tirado uma boneca Barbie do ânus de um paciente) afirmou que os homossexuais enfiam muitas coisas nos seus traseiros, como bem se sabe... O problema é que a médica em nenhum momento afirmou se tratar de um homossexual, isso foi leitura do Senhor Tas; para ele, todos os homossexuais enfiam coisas em seus traseiros, são todos sexualmente passivos. A reafirmação de estereótipos sobre homossexuais não tem cessado no programa referido.

É meus caros, mas como se sabe os humorísticos pouco tem fundamentado sua produção do riso sem se beneficiar da possibilidade de estigmatizar e ofender homossexuais. Há alguns exemplos que, se não podem ser chamados de positivos, pelo menos são diferentes. Um desses casos é o programa Pânico na TV que, no meu entendimento, é alvo de críticas pesadas quanto ao seu suposto conteúdo de baixo nível por não possuir uma pretensa imagem de ‘humor inteligente’ que outros programas chamam para si. O Pânico tem o talento de poucos de subverter totalmente a ordem das coisas e propiciar diferentes modos de produzir-se humor. Mas isso fica para um comentário posterior.

Volto ao início: Alencar deve ter razão. A homofobia produzida pelo CQC pouco tem reverberado negativamente em meios de comunicação e na militância. Mas esperar algo de uma militância política intimamente ligada ao status quo do governo federal atual é aguardar pelo nada. E se os meios mais eficazes de se produzir um contexto de manifestação e protesto costumam ser os menos eficazes, teremos um problema em fazer com que diferentes pontos de vista sejam discutidos mais amplamente. Enquanto isso, a questão da violência homofóbica segue como assunto pra depois e segue aberta a temporada de caça aos viados.



As imagens foram retiradas de blogs e trata-se de divulgação.

3 comentários:

  1. iniciativa legal a sua.

    ResponderExcluir
  2. Maravilhoso o post.

    Gostei do seu espaço e pretendo passar mais vezes por aqui.

    E é isso, enquanto deixarmos que a mídia e outros meios "humorizem" de maneira preconceituosa e estereotipada os diversos comportamentos dentro da comunidade LGBT, muitos esforçoes ativistas de nada adiantarão.

    São iniciativas como a sua que fazem diferença, basta o restante da sociedade concientizar-se disso e resolver amadurecer sobre este e outros temas também.

    ResponderExcluir
  3. infelizmente a televisao no Brasil é um lixo, e a sociedade brasileira na sua maioria é completamente alienada, então não temos muito do que esperar deles. Devemos fazer nossa parte lutando contra o preconceito e vivendo nossas vidas sem nos preocuparmos com os outros.

    ResponderExcluir